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15/09/2014 - 13:26:14

CANIL POLÍCIA FEDERAL

Agentes bons de faro

Capazes de encontrar drogas e materiais explosivos graças ao odor dessas substâncias, os cães da Polícia Federal são doados pelos Estados Unidos e treinados no Brasil.

  • Correio Braziliense
  • Maryna Lacerda

   

O objetivo é ganhar a bolinha, entregue quando a missão é cumprida. Porém, antes que o momento de distração chegue, os cães que atuam em operações da Polícia Federal desempenham funções que não são brincadeira. Com o faro apurado, eles desmantelam quadrilhas de tráfico de drogas e descobrem explosivos, tarefas para as quais são treinados por até um ano. Selecionados nos Estados Unidos, esse animais vêm ao Brasil, onde aprendem a técnica a ser aplicada nas ações. Até o fim do ano, todo o processo será feito no país, uma vez que entra em vigor o Programa de Reprodução na unidade da PF do Distrito Federal.

 

Os animais desembarcam adultos no país, após seleção feita por agentes brasileiros. As principais características levadas em consideração são o porte médio, o interesse por brinquedos e a aceitação em ser conduzido por alguém. O equilíbrio emocional, ou seja, o fato de o animal não desistir da atividade por causa de calor, frio ou de alguma outra condição adversa também é importante. A raça, por sua vez, não é um critério de escolha primordial. São aceitos cães mestiços, desde que preencham os requisitos procurados e estejam saudáveis. Ainda assim, pastores-alemães e belgas malinois (veja Quadro) são os mais usados.

 

A partir de dezembro, o Canil Central da PF inicia o Programa de Reprodução. Essa é uma forma de facilitar o recrutamento de novos cães, hoje feito por meio de doação do governo norte-americano ao brasileiro. O convênio, no entanto, será suspenso neste semestre, e o projeto local atuará para suprir a demanda não só da PF, mas das demais forças de segurança. Para isso, serão construídos 96 boxes para abrigar os animais que participarão do projeto e os gerados a partir da iniciativa. Uma equipe veterinária deve ficar responsável pelo setor e a área para atendimento médico deve ser ampliada. Os investimentos financeiros também devem aumentar, uma vez que cada animal custa cerca de US$ 5 mil (aproximadamente R$ 11,6 mil) ao ano. Os gastos envolvem treinamento, alimentação e cuidados com a saúde.

 

Direto ao ponto

 

O olfato apurado faz com que os cães sejam usados para a varredura de bagagens e grandes espaços, como ocorreu nos estádios durante a Copa do Mundo. Para se ter uma ideia, o animal é capaz de detectar odores da ordem de 10-6 Tesla, ou seja, capta partículas invisíveis que ficam suspensas no ar, ao redor do pacote investigado. Ao contrário do que se imagina, não há contato direto dele com a droga ou com o material explosivo. Apenas com a evaporação de algumas moléculas de elementos que compõem o produto suspeito, o alerta é dado. Então, o cão se senta e indica de onde vem o odor. "Estamos falando de unidades de pressão, não se pode nem falar em gramas nesse caso, tão ínfima é essa referência. O olfato do cão é extremamente preciso", explica o chefe do Canil Central da PF, Antônio Miranda.

 

A rapidez com que é feita a detecção é outro ponto a favor, uma vez que ele identifica instantaneamente algo que o espectômetro de massa, aparelho de medição de pressão, demoraria, no mínimo, um minuto para ler. Em nome da qualidade do serviço desempenhado, a equipe de quatro patas é dividida em dois grupos. Há os que identificam drogas e os que farejam detonadores. Eles não acumulam funções, para não dar chance às confusões. "Até poderíamos treiná-los para as duas atividades, ou seja, para que tivessem duas reações distintas, mas ampliaria os riscos de o animal se confundir", diz Miranda.

 

Apesar da responsabilidade que tem, para o cão, a obrigação é festa. Isso porque a associação que se incute nele é a de que identificar um pacote suspeito significa receber a bolinha. "Nós o premiamos pelo cumprimento da tarefa, por meio da vinculação do odor com o brinquedo. Por isso, é importante que o animal tenha apreço por objetos, neste caso, pela bolinha", detalha o chefe do Canil Central. Assim, não se pode dizer que eles ficam estressados com as operações de que participam, mas sim com o tempo ocioso. "Eles são animais que precisam de carga de trabalho para gastar energia. O que os estressa é o confinamento nos boxes. Inclusive, alguns estudos relacionam o confinamento por longos períodos à perda olfativa", compara.

 

O foco na tarefa a ser desempenhada é estimulado desde os primeiros treinos. Isso porque não basta que o cão chegue ao objetivo sem disciplina. É o respeito aos comandos que faz com que a pastora belga malinois Ziva, de 2 anos, só morda a bolinha assim que receber a ordem para fazê-lo. E, logo que ouve a indicação para soltá-la, a cadela deixa de mordê-la no ato. Assim como Ziva, o pastor-alemão Dusty atende as indicações passadas em língua germânica. "Porque é uma língua mais forte", de acordo com o adestrador Roberto Freitas, 38 anos. Ele conta que a rotina dos cães é bem dividida. "Temos os treinamentos de controle, impulso, momentos de socialização, com passeios pelo Departamento de Polícia Federal, e os de relaxamento, na piscina", elenca.

 

Entenda as raças

 

Pastor-alemão

É considerado o cão policial e militar mais bem-sucedido do mundo, uma vez que tem como características lealdade, agilidade, cautela e amizade. O pelo é denso e duro e varia nas cores castanha de capa preta, preto, marta e branca.

 

Pastor belga malinois

É conhecido pelo vigor e pela resistência. Além disso, é campeão em provas de obediência, de flyball (teste em que o animal salta obstáculos) e de pastoreio de ovelhas. São animais adequados para a companhia. O pelo é claro e alongado.

 

R$ 11,6 mil é o custo médio anual de manutenção de cada cão

 

"Nós o premiamos pelo cumprimento da tarefa, por meio da vinculação do odor com o brinquedo. Por isso, é importante que o animal tenha apreço por objetos, neste caso, pela bolinha"

 

Antônio Miranda, chefe do Canil Central da Polícia Federal


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