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21/05/2015 - 15:34:35

MEMÓRIA VIVA

Mulheres no comando

Delegada aposentada, Maria do Socorro Tinoco conta como foi difícil, porém gratificante, o trabalho na Polícia Federal

  • Revista Prisma
  • Felipe Chaves


Maria do Socorro Santos Nunes Tinoco entrou na Polícia Federal há 40 anos e trabalhou em diversas áreas da instituição. Começou como agente, participou da área administrativa e em 1983 tornou-se Delegada de Polícia Federal. Cargo que ocupou por 30 anos.

 

Como Delegada, Maria do Socorro foi lotada em todas as regiões do Brasil, exceto no Nordeste. O estado em que ficou mais tempo foi no Espírito Santo, foram treze anos exercendo a atividade policial.

 

Ela se orgulha muito de ter vivido tanto tempo dentro da Polícia Federal, uma instituição que segundo ela “trouxe grande enriquecimento não só profissional, mas também pessoal”. Apesar das dificuldades encontradas na época, Tinoco lembra que as diversas operações e os muitos inquéritos realizados em todos os cantos do país submeteram a ela uma visão ampla do trabalho da Polícia Federal perante a sociedade.

 

“A PF nos traz o Brasil todo pra perto, convivemos com culturas totalmente diferentes no dia-a-dia. Agradeço muito a oportunidade de ter entrado na Polícia Federal, tanto é que quando entrei eu disse: é aqui que eu quero ficar”, relembra.

 

Foram inúmeras operações realizadas em anos de Polícia Federal. Quando estava na delegacia de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Maria do Socorro lembra que havia apenas ela e mais um Delegado para 800 inquéritos. Só ela tomava conta de 600.

 

“Tinham vezes que eu ia ao cartório fazer audiências e aproveitava para tomar depoimentos de um caso, pegar declarações de outro, fazer auto de reconhecimento de outro e até apreensões. Era tudo muito corrido”, comenta.

 

Mesmo assim houve trabalhos marcantes para a Delegada. Ela se lembra de uma operação que fez no interior de Minas Gerais, na cidade de Linhares, onde libertou 650 trabalhadores escravos que exerciam atividades em condições subumanas de higiene, alimentação, moradia e saúde. Essa operação foi marcada na Polícia Federal, pois, na época, o trabalho escravo ainda não era competência da PF, mas sim da Civil.

 

Outra operação destacada pela Delegada foi a investigação de furtos de armas do depósito do fórum do município da Serra, na grande Vitória. Em seis anos, mas de 5 mil armas haviam sumido do local. Após muito trabalho, a Delegada com a equipe de policiais conseguiu chegar em toda a quadrilha, que envolvia um juiz, o chefe do cartório e outros funcionários.

 

Maria do Socorro lembra que sofreu algumas discriminações por ser mulher e estar ocupando o cargo que era predominantemente ocupado por homens. Mas ela garante que todas as discriminações vieram de fora da PF. A Delegada conta que uma vez, na delegacia de São José do Rio Preto, um homem ficou indignado por ter que se submeter a tratar de assuntos com uma Delegada mulher. Advogados também discriminavam a Delegada que fazia seu trabalho com a forte personalidade feminina.

 

A Delegada aposentada vem de uma geração em que o efetivo de Delegados era muito baixo. Houve épocas no Espírito Santo em que havia apenas quatro Delegados e que inclusive o próprio superintendente regional tinha que presidir inquéritos.

 

A escassez de recursos, de pessoal e as instalações precárias eram grandes problemas da época. Uma superintendência do Espírito Santo chegou a ser interditada e todos que ali trabalhavam precisaram urgentemente se mudar para uma pequena casa que mal suportava o efetivo. A Delegada lembra que o setor de identificação funcionava embaixo da escada e que uma mesma sala era compartilhada com cinco ou seis pessoas.

 

O armamento utilizado pela PF também era defasado. Enquanto bandidos se armavam fortemente, os policiai utilizavam revólveres calibre 38. As viaturas também deixavam a desejar e muitas vezes os policiais tinham que fazer o trabalho a pé ou até de ônibus. Os salários eram baixos e não existiam atrativos monetários para realizar o trabalho.

 

Mas mesmo assim, Tinoco lembra que o trabalho na PF era gratificante e que o fazia com muito orgulho e dedicação.

 

Para a Delegada, o importante crescimento que teve a Polícia Federal nos últimos anos foi graças à valorização que o governo deu à instituição. Mas, ela garante que ainda precisam ser feitas mudanças para valorizar o trabalho de quem tanto faz para melhorar o país.

 

Por isso, hoje, aos 61 anos e aposentada desde 2014, Maria do Socorro Tinoco ainda trabalha em prol da Polícia Federal, mas desta vez, atuando como representante parlamentar. A Delegada faz encontros com Deputados e Senadores e está diariamente no Congresso Nacional buscando a garantia de melhorias para a Polícia Federal.


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