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21/03/2014 - 11:31:55

OPINIÃO

Lugar de mulher é na Polícia!

As delegadas Tânia Fogaça e Tatiane Almeida fazem uma análise da participação feminina na corporação

  • Revista Prisma
  • Tânia Fogaça e Tatiane Almeida


A população brasileira tem 51% de mulheres, das quais 12% têm ensino superior, contra 10% dos homens. Porém, em diversos campos ainda somos sub-representadas, especialmente nas esferas do poder. Mas, em nenhum segmento as mulheres têm tão pouco espaço quanto nos órgãos de polícia.

Na atividade policial, ainda domina a noção de que seu exercício diário pressupõe o uso da força, herança de passado recente em que a imagem da polícia remetia à função de manutenção da ordem pública e repressão de movimentos subversivos. Ora, a polícia é a instituição autorizada ao exercício da força legítima. Vale lembrar, entretanto, que o uso da força não é realidade em todas as situações em que o policial atua. É possível afirmar até que o mais eficiente é a possibilidade da imposição da autoridade sem recorrer à força.

Apesar de todo o desenvolvimento científico e tecnológico que o mundo contemporâneo assiste, diversos preconceitos ainda contaminam as discussões sobre gênero, como se fossem verdades científicas. Por exemplo, a tensão pré-menstrual, a famosa TPM, deixaria a mulheres instáveis e, portanto, seria a causa da dificuldade para ocuparem cargos de chefias importantes.

Ora, não somos sexo frágil. Pelo contrário, a maioria de nós enfrenta dupla jornada de trabalho, pois persiste no Brasil a divisão sexual do trabalho tradicional segundo a qual, além de trabalhar fora, a mulher é responsável pelo cuidado dos filhos, da casa, do marido e tudo o que remete ao doméstico.

Pesquisa PNAD/2010 revelou que 90% das mulheres e apenas 50% dos homens se dedicam aos afazeres domésticos.

Além disso, as mulheres disseram gastar 26,6 horas semanalmente nesse trabalho, contra 10,5 dos homens. Para eles, essas atividades permanecem facultativas, tanto que ainda causam estranheza notícias de pais que criam sozinhos os filhos, enquanto milhões de mulheres, que fazem isso diariamente, continuam sofrendo discriminação.

Em pleno século 21, é inadmissível que a mulher, responsável biológica pela continuidade da espécie, seja discriminada profissionalmente por entrar de licença- maternidade, faltar eventualmente ao trabalho por causa dos filhos, ou, serem consideradas um “custo potencial”, pela simples possibilidade de engravidarem. Em recente encontro promovido por delegadas de polícia federal do Brasil, foram relatados casos de policiais grávidas convocadas para participar de operações policiais.

As dificuldades são acentuadas no universo da polícia. Em primeiro lugar, porque esse ofício é “historicamente reservado aos homens”.

Enfrentamos dificuldades desde a seleção, seja pela cota para o ingresso de mulheres, que ocorre em alguns estados, seja pela exigência de pré-requisitos físicos que, invariavelmente, servem de obstáculo para o acesso igualitário de mulheres. Exemplo disso são as desgastantes provas físicas aplicadas e até exigência de altura mínima para o ingresso na carreira. Persiste a falsa noção de que a policial deve ter preparo físico acima da média para compensar o fato de ser mulher.

Ora, no curso do processo de redemocratização que exigia reformulação da imagem das policiais, ligadas excessivamente à repressão, a mulher serviu ao propósito de suavizar a instituição.

Hoje, porém, será que as funções que exercemos devem se resumir aos serviços burocráticos, enquanto as atividades operacionais são destinadas exclusivamente aos homens? A permanência da lógica masculina tem efeitos perversos, especialmente porque reforça o estereótipo do ofício policial ligado mais ao uso da força física que ao preparo intelectual. Não é à toa que muitos homens, de forma velada, ainda rejeitam trabalhar com mulheres ou sob o comando delas. Cada vez mais, as apurações criminais e investigações se ancoram no uso da tecnologia e dos instrumentos de inteligência.

No momento em que a sociedade reclama por polícia menos violenta e bruta e por investigações policiais eficazes no combate à corrupção e ao crime organizado, é preciso repensar a inclusão das mulheres na instituição, pois é certo que muito temos a contribuir para uma polícia democrática e respeitadora dos direitos humanos.

Para comprovar o que as mulheres são capazes de fazer, basta citar as inúmeras operações da PF, em todo o país, que tiveram à frente competentes delegadas e respectivas equipes, compostas por peritas, agentes, escrivãs e papiloscopistas que atuaram brilhantemente para o êxito de trabalhos que resultaram na prisão de criminosos.


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