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17/07/2014 - 14:51:14

EXTRA PAUTA

Um amor incondicional

Conheça a história de delegados federais que abriram seus corações e lares para a adoção de animais abandonados

  • ADPF
  • Vanessa Negrini

   

Por trás da rigidez e introspecção do cargo de delegado de polícia federal existem pessoas de carne e osso que se comovem com os dramas sociais e se dedicam às mais variadas causas. São voluntárias em trabalhos com crianças, idosos, comunidades carentes, meio ambiente.

 

A partir desta Prisma, vamos apresentar algumas dessas histórias inspiradoras. Para inaugurar o quadro, falaremos sobre aqueles delegados que se entregam a um amor incondicional: a adoção de animais abandonados. Paulo Roberto Falcão Ribeiro e Ana Zelinda Buffara são dois exemplos de como abrir o coração para estes pequenos seres pode dar um novo sentido à própria vida. Ele foi o responsável pelo inquérito do caso Banestado. Ela, pela prisão de empresários poderosos por lavagem de dinheiro. Ambos durões no trabalho derretem-se quando o assunto são os animais.

 

Quem é amigo do delegado Falcão nas redes sociais já se acostumou a acompanhar as peripécias de Bellinha. A cachorrinha vira-lata coloca seu apartamento de cabeça para baixo. Destrói de móveis a gravatas italianas de seda pura. Quando ele relata as travessuras diárias dela em sua página, é como se fosse um pai amoroso falando do filho travesso. Essa “legítima” Fox da Tasmânia (“raça” inventada por Falcão para descrever um misto de Fox Paulistinha com o diabo da Tasmânia) é exigente. A poltrona da sala é só dela; expulsa qualquer um que se atrever a sentar. Exige biscoitos e guloseimas batendo na porta do armário da cozinha, onde ficam guardados. De tão mimada e cheia de caprichos Bellinha ganhou o apelido de Pessoa.

 

Para conversar com a delegada Ana Zelinda por chat, esteja preparado para várias interrupções na sessão da internet. Não se trata de provedor ruim, mas de um de seus cães – todos recolhidos nas ruas – que puxou a tomada. Nos últimos oito anos que tem se dedicado ao trabalho com animais abandonados, já recolheu, castrou e conseguiu encaminhar para adoção quase uma centena deles. Mas não conseguiu abrir mão de nove que vivem com ela. Por ordem de chegada (pois não quer magoar nenhum mostrando predileção), seus cachorros se chamam Banzas Polúcios, Gohan Zezito, Delôra Dedeca, Tito Lívio, Valente Zito, Bope Federal, Belinha Piriguete, Aisha Maria e Brisa Chanel.

 

VIDA OU MORTE. A decisão de adotar um animal de rua, muitas vezes ocorre numa situação de emergência. Se o animal não for resgatado naquele instante, pode não sobreviver. Com Bellinha foi assim. Trazida por um dos filhos de Falcão, estava muito maltratada, pesava pouco mais de 1kg e tinha uma barriga gigante. No mesmo dia foi internada com diagnóstico de parvovirose, doença que leva a óbito a maioria dos animais infectados. Mas quis o destino que Bellinha resistisse. Após meses de tratamento, com refeições especiais a cada duas ou três horas, ela se recuperou completamente. Hoje, com um ano de idade, pesa mais de 20 kg de pura alegria e energia. Ela assumiria o lugar de Teuke, também adotada, que viveu com a família de Falcão por catorze anos, deixando uma profunda tristeza desde a sua morte.

 

Em 2007, ainda na ativa, Ana Zelinda ganhou um poodle de uma amiga. Lendo um artigo na internet, a delegada soube que animais dessa raça não gostam de ficar sozinhos. Na manhã seguinte, como um sinal do destino, ela encontrou outro poodle na porta do seu condomínio. Gohan foi o seu primeiro adotado. De lá para cá não parou mais. Sempre recolhe animais abandonados, paga o tratamento veterinário e hospedagem em hotéis e abrigos especializados até que encontrem novo lar. Para não comprometer o orçamento, a delegada estabeleceu um limite de quatro cães por vez para ajudar.

 

VOLUNTARIADO. Além dos animais que adotaram, Falcão e Ana Zelinda acabaram se tornando protetores voluntários. Não integram nenhuma ONG, mas estão sempre apoiando diversas iniciativas e possuem dezenas de “aufilhados”.

 

Quem quiser ajudar, basta uma rápida pesquisa nas redes sociais para encontrar dezenas de grupos. Todo apoio será bemvindo. A demanda é enorme e os recursos humanos e financeiros nunca são suficientes.

 

Falcão defende que as pessoas adotem seus animais de estimação, em vez de comprá-los. “Além de representar o amor pela criação, revela preocupação e responsabilidade com a dignidade dos animais que são vendidos, que servem como meros reprodutores para fins comerciais, em ciclos infinitos”, justifica.

 

Ele também defende medidas como o fim da utilização de animais para tração e a criação de hospitais veterinários públicos e centros de acolhimento, pelo menos grandes centros.

 

“Se não por amor e piedade, pela saúde pública, com o objetivo de evitar a procriação descontrolada, com a castração, prevenindo, assim, doenças que podem ser transmitidas a outros animais e ao homem”, afirma o delegado.

 

Para Ana Zelinda, com o atual número de animais, não há como obter um resultado efetivo na proteção. Não há lar suficiente para todos os milhares de animais abandonados. Por isso, a castração é fundamental. Ela defende que, especialmente nos bairros de população mais carente, a castração seja oferecida pelo poder público, de forma gratuita, facilitada e amparada.

 

“Em Almirante Brown, na Argentina, foi implantado um projeto de castração em massa; hoje, há fila para adoção de um vira-lata na cidade. Esse é o meu sonho”, afirma a delegada.

 

HOSPITAL PÚBLICO. Em 2012, São Paulo foi pioneiro ao inaugurar o primeiro hospital público veterinário do país. Em um ano e meio de funcionamento, foram realizados 288 mil procedimentos. Com a demanda, em janeiro deste ano foi inaugurada a segunda unidade, com previsão para ampliar o atendimento em 50%. Santa Catarina acaba de aprovar uma lei para conceder desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para quem adotar um animal abandonado. No entanto, a experiência desses estados não parece contagiar o resto do país com facilidade. Em Brasília, o governo apresentou o projeto do Castramóvel, um ônibus equipado com consultório para atendimento nas regiões administrativas. Três meses depois do lançamento oficial, o projeto continua parado aguardando os trâmites burocráticos de licitação.

 

Enquanto o governo não se sensibiliza para o problema, os voluntários e ONGs se viram como podem. Falcão e Ana Zelinda dão a receita para quem quer ajudar: se não pode adotar, ajude com doações de sacos ração, remédios e, especialmente, contribuindo com o custeio de castrações dos animais. Divulgue os animais que se encontram para adoção. Grande parte das ONGs e protetores mantêm páginas nas redes sociais. Compartilhe os posts entre amigos e familiares. Se encontrar um animal abandonado, não pense que alguém vai ajuda-lo. Esse “alguém” é você e o animalzinho pode não ter uma segunda chance. Acolha temporariamente, trate, castre e, se não houver espaço em sua vida, garanta que ele encontre um lar seguro e feliz.


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