Nos últimos anos a quantidade de vítimas por ações terroristas no mundo aumentou mais de 60%. Em 2013, pelo menos 24 países registraram mais de 50 mortes provenientes do terrorismo. Esses dados são do Índice Global do Terrorismo, lançado no ano passado.
Oitenta por cento das mortes se concentram em apenas cinco países do globo: Iraque, Afeganistão, Paquistão, Nigéria e Síria. Contudo, é possível perceber um crescimento das ações de terror em países como Espanha, Estados Unidos, França, entre outros. Só em 2013 foram mais de 3.721 ataques registrado no resto do mundo, com 3.236 mortes.
Para o Delegado de Polícia Federal Adriano Barbosa, o terrorismo é um fenômeno político e ideológico que acompanha a evolução humana desde sempre. “O terrorismo sempre existiu”, comenta o Delegado.
Barbosa considera que, apesar de haver disputas políticas, a manifestação do terrorismo é criminosa, pois atinge pessoas, bens e direitos. “O que diferencia um crime comum do terrorismo é a motivação do autor do crime”.
Três fatores são os principais desencadeadores do terrorismo: violência financiada pelo estado, queixas grupais e altos níveis de criminalidade. Fatores sociais como pobreza e falta de escolaridade não interferem na prática do terror. O Índice Global do Terrorismo destaca ainda que há forte relação entre as ações terroristas e outras formas de violência e criminalidades.
Um exemplo disso é a atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. FARC, como é conhecida, hoje é considerada organização terrorista por países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Chile e a própria Colômbia.
O grupo surgiu em meados dos anos 60 e por algum tempo se sustentou por ajuda de alguns países. Na década de 80, com a redução e até o fim dos financiamentos, a organização se aproximou do crime organizado, mais especificamente do narcotráfico para conseguir fonte de financiamento independente. Surge então o narcoterrorismo, que é o dinheiro do narcotráfico apoiando o terrorismo.
TERRORISMO x HEROÍSMO
Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (IREL/UnB), Argemiro Procópio Filho, é importante ressaltar que uma das características que existe no terrorismo é o julgamento do que é terror para uns e o que é heroico para outros.
O acadêmico lembra que em 1946 os israelenses foram rotulados terroristas pelos ingleses após o Quartel General das Forças Armadas Britânica em Jerusalém ser bombardeado e matar dezenas de soldados ingleses. O que por um lado foi um ato terrorismo para os britânicos, para os judeus foi visto como um ato de heroísmo.
Outro grupo em que é possível fazer essa distinção entre o herói e o terrorista é no Exército Republicano Irlandês (IRA). O grupo formado por católicos pretendia separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e integrá-la à República da Irlanda. O alvo principal eram os protestantes, políticos unionistas e representantes do governo britânico.
A luta pela igualdade religiosa era a principal bandeira levantada pelo grupo. Cerca de 70% da população norte-irlandesa era protestante e o era restante católica, o que gerava desigualdade e preconceito entre as religiões. Assim, o IRA era aplaudido na Irlanda e condenado na Inglaterra.
O Pátria Basca e Liberdade (ETA) é um grupo considerado terrorista por alguns países da Europa que luta pela independência da região do País Basco, localizada entre a Espanha e a França. Estima-se que o grupo tenha sido responsável por quase mil mortes, além de dezenas de sequestros.
O atentado ao metrô de Madrid, na Espanha, em 11 de março de 2004, inicialmente foi atribuído ao ETA, pois os explosivos encontrados na estação eram similares aos utilizados pelo grupo terrorista em seus ataques; e duas semanas antes a Guarda Civil Espanhola havia evitado um ataque de grandes proporções quando apreendeu 500 kg do explosivo e prendeu dois prováveis integrantes do ETA.
No entanto, algumas provas apontaram que o ataque à estação em Madrid pode ter sido proveniente da Al Qaeda. No dia seguinte ao atentado o ETA negou a autoria das explosões.
NO BRASIL
O Brasil segue as decisões da Organização das Nações Unidas (ONU) na consideração de grupos terroristas. São considerados grupos terroristas pela ONU a Al Qaeda, o Estado Islâmico e atualmente foi acrescentado o Boko Haram.
Apesar de não haver indícios de terrorismo internacional no país, o professor Argemiro Procópio aponta que os crimes organizados aqui matam mais do que muito grupos terroristas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o Governo Federal contabilizou cerca de 50 mil homicídios no país. Porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que esse número seja ainda maior, algo entorno de 64 mil homicídios.
Para o professor, uma forma de prevenir ao terrorismo é colocar a prevenção e a repressão no mesmo patamar e que, “para certos grupos, o que a população vive no Brasil hoje é uma espécie de terrorismo”, afirma Procópio.
Já para o Delegado Federal Adriano Barbosa, se um dia houver terrorismo no Brasil ele será de expressão criminosa. E para prevenir isso, o estado deve se antecipar para que não haja o terror. Medidas preventivas que afastem o ato do terror e assim afaste o terrorismo devem ser tomadas com antecedência. Criminalizar o ato, o financiamento, as condutas de incitação ao terror, os treinamentos e recrutamentos são as primeiras medidas a serem tomadas.
“Se nos voltarmos apenas ao ataque e não nos preocuparmos com a profundidade do problema, onde se encontra o financiamento, o treinamento, entre outras questões, estaremos atacando apenas o efeito e não a causa”, finaliza o Delegado.
